Tradutores encontraram equívocos em placas de Olinda (Foto: Vitor Tavares / G1)
Em tempo de Copa do Mundo, basta ir aos principais pontos turísticos do Grande Recife para encontrar turistas, brasileiros ou estrangeiros. Para os “gringos”, visitar um país com uma língua totalmente diferente pode resultar em certas limitações de comunicação. Placas que às vezes não traduzem corretamente uma indicação turística ou pessoas que trabalham em atendimento sem domínio de idiomas como inglês e espanhol são algumas das dificuldades encontradas.
Em Olinda, um projeto de sinalização turística instalou 44 placas em ruas do Sítio Histórico, indicando rotas a pé para visitação dos principais pontos da cidade. De acordo com a Secretaria de Turismo de Pernambuco, na última semana, algumas placas que continham erros grosseiros de tradução e até de digitação foram retiradas para serem consertadas. Entretanto, alguns equívocos ainda podem ser vistos na sinalização encontrada, como no caso da tradução de "Quatro Cantos" ("Four Corners", em inglês, ou "Cuatro Esquinas", em espanhol).
Placa traduz 'Quatro Cantos' ao pé da letra, como 'Four
Corners' ou 'Cuatro Esquinas' (Foto: Vitor Tavares / G1)
Para tradutores das duas línguas, por se tratar de um local, nome próprio, “Quatro Cantos” não deveria ser traduzido ao pé da letra. “É como se a gente fosse traduzir ‘Boa Viagem’ [praia da Zona Sul do Recife] por ‘Good Trip’. Quando existe uma internacionalização do nome em outra língua, como no caso de New York virar Nova Iorque em português, há essa tradução. Mas quando não, não se traduz. Poderia haver até uma explicação sobre o que são os ‘Quatro Cantos’ no local, mas não numa tradução literal do lugar”, destacou a tradutora e professora de inglês da Associação Brasil América (ABA), Cecília Lemos.
A opinião também é compartilhada pelo tradutor e professor de espanhol do Instituto Cervantes, o boliviano Jorge Daniel. Em Olinda, o tradicional restaurante Sobrado Mourisco foi traduzido como “Moorish House” ou “Casa con Balcón Morisco” ou ainda “Casa de Balcón Morisco”, dependendo da placa encontrada. “Em alguns tipos de tradução, a gente perde uma carga histórica ao tentar traduzir um termo. Há expressões que já têm um significado naquele lugar“, comentou o tradutor.
Professores defendem 'estudo histórico' para poder traduzir placas corretamente (Foto: Vitor Tavares / G1)
Em alguns casos, também é preciso um estudo histórico sobre a cultura dos países que falam a língua a receber a tradução. Por exemplo, a Catedral de São Salvador do Mundo é traduzida para “Our Lord The Savior Of the World Cathedral”. Para a professora de inglês, por essa tradução não representar uma igreja de fato em países de língua inglesa, o mais adequado seria "São Salvador do Mundo Cathedral".
Em casos como “Museu de Arte Sacra”, como há uma explicação do tipo de museu, o correto seria mesmo “Museu de Arte Sacra” ou “Museum of Sacred Art”, como indicam as placas olindenses. “Para saber ao certo como será traduzido, é preciso conhecer a fundo a cultura dos países, além do domínio da língua. Muitas vezes você perde muito, ao ir ao pé da letra”, destacou Jorge.
Amigos da Costa Rica aproveitam estadia no Recife
(Foto: Vitor Tavares / G1)
Improviso no portunhol
Na língua falada, algumas dificuldades também são encontradas. Não é difícil ver guias turísticos ou vendedores tentando improvisar um “portunhol”. O espanhol Pedro Catron disse que brasileiros muitas vezes pensam que estão falando espanhol, mas, na verdade, não estão. “As pessoas são amigáveis, o que facilita o entendimento”, contou.
No Marco Zero do Recife, a vendedora de passeios turísticos Tatiana Trindade não fala nenhuma palavra em outro idioma e disse que o aumento no número de estrangeiros na cidade exige um jogo de cintura ainda maior. “Eu mostro o dinheiro, aponto o caminho que o barco vai fazer, para ver se eles entendem. Quando falam espanhol, até dá para desenrolar, mas quando é inglês fica difícil. Se não entenderem, deixo ir embora porque não tenho o que fazer”, comentou.
Os turistas, em sua maioria latinos, estão movimentando todo o Bairro do Recife. Além da Fan Fest, no Cais da Alfandêga, pontos turísticos como a Rua do Bom Jesus e Praça do Arsenal atraem os estrangeiros para o local. Costarriquenhos podiam ser encontrados em grande quantidade, por conta da partida contra a Itália, na sexta (20), na Arena Pernambuco. “Estamos aproveitando nossa estada aqui, conhecendo a cultura do Brasil, tudo bem divertido”, disse Juan Duran.
Amigas do México tiram foto na parte histórica do Recife
(Foto: Vitor Tavares / G1)
No momento de negociar um passeio, um grupo de americanos se esforçava para comprar uma volta de catamarã pelo Rio Capibaribe. “Aprendi algumas palavras em português, como ‘obrigado’, ‘quanto custa’ para conseguir fazer algumas coisas na cidade”, destacou Oliver Terson, que está no Brasil há uma semana, passeando por diversos estados e praias do Nordeste. Um grupo de garotas mexicanas também tentava se esforçar para pedir para que alguém tirasse uma fotografia delas. “Muitas pessoas não entendem, mas sempre alguém compreende”, destacou Mariza Vargas.
Segundo o professor Jorge Daniel, muitos latinos também pensam que sabem falar português, mas na verdade não conhecem nada do idioma. "Quando vamos ao Brasil, pensamos que em três meses vamos saber tudo, mas, ao passar do tempo, você nota como é complicado ser falante do português", disse. Ele destacou que a tentativa de se comunicar é válida, mesmo de forma precária, mas que isso não pode acontecer em ambientes profissionais. "Às vezes pessoas que viajaram para fora são contratadas para atuar como tradutoras, mas não fazem o trabalho de forma certa. Acho um desrespeito", disse.
Tatiana diz que perde o freguês caso não consiga falar a língua (Foto: Vitor Tavares / G1)
Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco
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