domingo, 22 de junho de 2014
O marcador é quem dá o tom
Marcador, marcante, puxador. Nomenclaturas não faltam para descrever o papel daquele que, à frente da quadrilha junina, é responsável por instigar os brincantes e manter a fogueira da alegria acesa. Essencial na dança, o personagem é um dos poucos elementos que resistiram à modernização dos grupos, mas não sobreviveu imune às mudanças. O marcador dos anos 2000 dirige, dança, canta e até atua.
Um dos mais populares marcadores do estado, o ator Fábio Andrade foi um dos responsáveis pela transformação do personagem no universo junino. Há 20 anos dirige e marca a quadrilha Lumiar do Pina. Em 2001, surpreendeu os jurados dos concursos locais ao se apresentar como puxador, noivo e noiva. Tudo ao mesmo tempo.
“Também atuei como Lampião, Maria Bonita e marcador, em 2005”, orgulha-se. A ousadia rendeu inúmeros prêmios. “Depois de mim, as quadrilhas começaram a repensar o papel dos marcadores e passaram a buscar profissionais com formação de ator”, acredita.
A espetacularização do personagem é questionada por integrantes do ciclo. Desde 1994, Luiz Mendes, estreou como marcador da extinta quadrilha Forró da Gente, da Imbiribeira.“Eu participava como brincante e também puxava a quadrilha”, lembra.
Em 2000, resolveu fazer apenas marcação. Hoje, é marcador da Sanfona Branca, da Vila Cardeal e lamenta a descaracterização do personagem que aprendeu a amar com o pai, ex-marcador. “Antes, conduziámos a mudança do passo, mas hoje a quadrilha tem coreógrafo e a dança é toda cronometrada”. Palavras como “anavantú” sumiram do vocabulário junino, reclama.
Único componente avaliado isoladamente pelas comissões dos concursos, o marcador vale 10 pontos. Quando não é o próprio quadrilheiro que marca, os grupos investem alto para contratar um profissional exclusivo. Os valores acordados chegam a R$ 3 mil. Ator e educador social, Walmir Felipe marca a quadrilha Zabumba, de Camaragibe, e acredita que a função do seu personagem passou a ser outra: “Nosso papel, agora, é de animador”.
Fábio discorda dessa visão. Para ele, o moderno pode coexistir com o tradicional. Ele diz que faz questão de continuar anunciando os passos dos brincantes e ainda solta frases clássicas como “olha o serrote”, “segue passeio” e “olha o túnel”.
Presidente da Federação de Quadrilhas Juninas de Pernambuco, Michele Miguel, acredita que a dinamização do puxador dentro dos grupos está relacionada a um movimento maior, iniciado pela modernização das quadrilhas. “A evolução dos grupos influenciou a renovação desse personagem, mas a essência permanece a mesma”.
Se tem uma coisa que não muda no ciclo junino é a determinação dos marcadores para conquistar público e jurado, o que independe de dinheiro. Fábio faz parte da direção da Lumiar e não recebe um centavo a mais para marcar. Este ano, atuou como mulher para dar vida ao personagem “Maria Cabaça”. “Dá trabalho, principalmente, porque sou uma liderança dentro do grupo, mas me divirto muito”, afirma. Luiz, que também não recebe cachê para marcar e foi eleito três vezes como melhor do Festival Sesc de Quadrilhas, resume: “Marcador tem de ser movido por paixão.”
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/
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